Já era noite, Samuel fumava seu último cigarro, talvez não só o último do maço. Loiro, cabelo curto e liso, vestia-se da maneira mais discreta possível, sempre. Admirava a vista enquanto terminava de tragar seu último desejo. A lua parecia grande, "Perfeita", pensou ele reparando pela janela. Olhava agora os azulejos azuis, a pia e tudo mais que se conseguia discernir com a parca iluminação que ajustara em seu banheiro para romantizar o ato.

"Não há outra saída, ela me traiu, ela quis que fosse assim", pensava o jovem adulto com tamanho apelo, quase como se tentasse convencer mais alguém além de si mesmo, e talvez estivesse. Talvez se sua família não tivesse viajado, talvez se ele não estivesse tão drogado, se pelo menos não tivesse tantos distúrbios... mas nada disto era verdade, era tudo tão propício!

Ao terminar seu cigarro, acendeu mais algumas velas, abriu sua mochila e pegou um papel de aparência gasta. Começou a ler seu poema, lia para si mesmo tantos versos podres, incoerentes, absurdos e ainda assim com um certo sentimento forte digno da obra mais gótica.

Terminou de ler e olhou em seu relógio, este marcava onze e cinquenta. "É hora", pensou. Decidido como nunca esteve antes abriu mais uma vez sua mochila preparada especialmente para a ocasião e pegou seu punhal muito bem adornado. Tirou sua camisa, deu uma última olhada no espelho que revelava seu físico de atleta, embora com muitas cicatrizes estranhas e levantou o punhal.

Desferiu três golpes fatais em sua amada que se encontrava amarrada e inconciente à sua frente, sentiu o sangue escorrer em suas mãos. Sentiu-se aliviado. Com um sorriso que se definia em desespero, pensou uma última vez antes de penetrar a mesma lâmina suja em seu peito, "Até que a morte nos separe".